quarta-feira, 16 de agosto de 2017

O CÉU CAIU-NOS EM CIMA


Este texto foi escrito instantes após a queda da árvore no Monte, é um momento de grande tristeza para todos nós.

A Festa de Nossa Senhora do Monte é uma festa especial para todos os madeirenses. Já foi, em tempos, a festa que atraía, e ainda atrai, romeiros de toda a região para o arraial do Monte, em que as pessoas do campo dormiam pelo largo da Fonte, nos degraus da igreja e por todos os cantos para assistir à eucaristia de dia 15.

​As pessoas que faleceram mostram-nos o quanto a nossa vida é frágil e num momento de fé, momento de reflexão interior, um carvalho desaba e tira-lhes o sopro da vida e abalam para o céu em que os crentes se reveem.

Para mim, como cristão e católico, todo este cenário é terrível, pois podia ter sido eu a estar ali. É tradição ir com a minha família àquela grande festa. Este ano foi exceção, por diversos motivos. Mas aquelas pessoas ali podiam ser eu, um familiar, e é assim que vejo aquelas pessoas, um familiar, um amigo, ou eu mesmo.

A Madeira tem sido fustigada por catástrofes que demonstram as dificuldades em sermos insulares. Se por lado vivemos num pequeno paraíso, por vezes, esse paraíso mostra-nos que também vivemos num local sujeito a perigos como outro qualquer. Esta quadra, em dois anos seguidos, fica assinalada como uma data marcada por calamidades. O ano passado tivemos os incêndios, este ano temos uma árvore que se desgalha e colhe vidas no esplendor da sua fé. Não me cabe aqui e agora falar de responsabilidades. O respeito às famílias e aos nossos conterrâneos impede-me de o fazer, ou, sequer, de perguntar se esta catástrofe podia ter sido prevenida.

Misteriosos são os desígnios de Deus. Nossa Senhora do Monte, a padroeira da nossa ilha, agora e na hora da nossa morte e para além dela, indica-nos o caminho do Filho e mostra-nos o Seu sofrimento, e àqueles que trazem hoje a alma de luto por culpa, se culpa têm os seres vegetais, daquela maldita árvore que em tempos nos deu sombra e acolheu. Esta cidade, cujo patrono, São Tiago Menor, nos livrou da peste, ora a Deus e a todos os que podem, no céu e nesta terra: velai por nós, e livrai-nos de todos os males. - Ámen, dizei todos!

“É normal caírem coisas das árvores”, oxalá tivessem a leveza de alguns ramos de alecrim, pois é disso que se precisa. Ou, como a minha avó preparava em casa, dentro de uma panela, um “perfume de alecrim”, como canta Xico Buarque, para afastar o mau olhado. Que a minha avó, lá no céu, com anjos e arcanjos, asperjam a nossa ilha com o perfume de alecrim e afastem maus agoiros e os mais espíritos! Assim seja e que Deus abençoe a Madeira.

Artigo das Crónicas Siga Freitas - JM-Madeira

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